domingo, 26 de agosto de 2012

Memórias de sala de aula: 21 Ago 2012


Olá,

Neste domingo, na hora do almoço entre uma "garfada" e outra, surge na tv a figura de Ruben Alves  - clic aqui para a bibliografia - (Veja a entrevista na GloboNews "Dossiê") para uma entrevista.

Em dado momento ele argumenta que a verdadeira função do professor é não dar as respostas e sim provocar a curiosidade nos alunos e levá-los às pesquisas e que a primeira tarefa  é acordar a inteligencia e provocá-la para que ela pense...  Que os alunos tenham a coragem e habilidades para construirem pontes sobre os abismos.

"A alma deseja o perigo e o desconhecido. Ela é uma águia das alturas e que ama o abismo e as montanhas geladas. A alma é guerreira e precisa que tenha sempre uma batalha a ser vencida.  Temos que ter o olhar das crianças: são as crianças que vêem as coisas com o espanto da primeira vez, com  assombro, pois as coisas são do jeito que são. Os adultos de tanto vê-las... não vêem mais. Os adultos são cegos...", finaliza Rubens Alves.

É com esse "olhar de criança" que começo este segundo semestre/2012 no PPGE cuja tarefa dada pelo Prof Luiz Fernando foi de transformar o blog em um caderno.

Blog? Sei o que é. Entrei em muitos, mas nunca construi um.
Trago os ensinamentos de Ruben Alves: vou construir uma ponte sobre esse abismo.

Diante do meu companheiro de muitas lutas pedagógicas e fiel portador de um conhecimento enorme e invejável contido nos Gigabytes do seu "HD", começo a colocar camadas de figuras, textos - confesso que não tenho toda a liberdade, pois tenho leiautes pré-definidos a seguir, mas consigo arrastá-los de um lado para outro - não me importo e abro uma paleta de cores.
Faço a inserção de texturas e caixas de textos. Um "blog" começa a surgir em minha frente, suportado na tela (com marcas de dedos) do meu notebook que já demonstra sinais de cansaço nas suas teclas, antes foscas, resistentes e rebeldes; agora trazem nas superfícies um brilho e uma delicadeza no toque.

Preciso de um tema musical para acompanhar o nascimento do "blog". Num clic, convido Jimmy Page e Robert Plant para sonorizar o meu ambiente que na virtualidade do ciberespaço se realiza com a musica "The Rain Song" (Canção da chuva). Clic para visualizar o clip ..

Certamente não concluí este blog.

Tenho a convicção que ele nunca será concluido. É assim que deve ser.
Inacabado e aberto para que as pessoas que por aqui transitem, deixem  suas impressões, suas opiniões. Quero que ele tenha o formato das pessoas que por aqui passarão.

Já tenho "1" seguidora (obrigado pela força, Bia) rsrs.
Acredito que a memoria da primeira aula sobre novos letramentos, começa pelo simples olhar lançado neste blog. 

Um dia ele estará cheio de pessoas, de textos, de dissertações, da minha dissertação, de amigos, de ex-amigos e de amigos dos amigos...

Essa é a magia da escrita, do registro ao som de "Led Zepplin".
Portanto este texto deve ser lido da mesma forma como eu o escrevi: com carinho e ao som de uma música.

A canção está nos acordes finais, mas que ressoe por toda semana!

Tenham todos um ótimo fim de domingo.

Até mais
"It is the summer of my smiles
Flee from me keepers of the gloom
Speak to me only with your eyes"
                           (PAGE, Jimmy)

Ah!, o nome do blog?
Não sei.. tem que clicar...

sábado, 25 de agosto de 2012

COTIDIANO: Um mundo de memórias e invisibilidades.


A ideia desse texto surgiu num desses encontros no Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado - na Uniso em 27jun2011, após as aulas do Prof. Dr Marcos Reigota. 

Até então, sempre olhei o cotidiano como algo frequentemente cheio dele mesmo. Na palavra culta, cotidiano é algo que se faz todos os dias, o que acontece habitualmente, a monotonia do cotidiano.
Tive uma semana surpreendente. Fiz o que não devia fazer (ou deveria ter feito há tempos): não li Foucault - até os meus quarenta e sete anos de vida, ele não existia. Procurei por Hannah Arendt e subjuguei-a por seus escritos. Dediquei a observar atentamente suas fotos, seus retratos que tinham marcas de um cotidiano de não-história.
Sem nenhum remorso troquei Gilles Delleuze pelos saberesmultiplos[1] de  Nilda Alves e Regina Leite Garcia, que muito contribuíram para que as pessoas e suas vidas cotidianas, suas trajetórias e suas narrativas ganhassem o merecido destaque no espaço acadêmico. Esse olhar diferenciado pode ser visto nesta representação escrita com características líquidas: nem artigo, nem crônica, só escrita. Letras preenchendo o cotidiano da folha.
Quis trazer para este lugar escritolido[2] a relação de espaço e cotidiano fundamentada em Michel de Certeau:

 “O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia ( ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou de viver nesta ou noutra condição, com esta fadiga, com este desejo. O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada.
Não se deve esquecer este “mundo memória”, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares da infância, memória do corpo, dos gestos da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história "irracional” ou desta “não-história”, como o diz ainda A. Dupront. O que interessa ao historiador do cotidiano é o invisível...” (CERTEAU , 1996:31)
Assim, deixo de pensar “sobre” o cotidiano e entrego-me as sensações do “estar com” o cotidiano.  O que realmente importa é a busca significante do invisível. É por reconhecê-lo como tempo/lugar dos conflitos racionais e irracionais de nossa contemporaneidade e dos sujeitosindividuaiscoletivos[3].
Outra idéia que nos parece fundamental nas pesquisas tem a ver com a dimensão “do lugar”, “do habitado”, “do praticado”, “do vivido”, “do usado”. Lefebvre sugere a exploração do repetitivo e busca a compreensão de como re-começam, re-criam, re-tomam as condições reprodutoras de sua invisível história e que o re-começar não é apenas repetir o já conhecido, mas sim re-ver o que nos parecia perdido na insignificância.
O que de tanto fazermos, não percebemos? O que apesar de tantas dificuldades e condições adversas conseguimos mudar? É necessário o abandono dos processos de classificar, separar, juntar, afastar-se do olhar panóptico e mergulhar no mundo. Só assim será possível entender o usuário destes espaçotempos[4] e o que fabrica os seus objetos, sugere Nilda Alves.
A física moderna estabelece que todos os objetos escorregam em um mesmo tobogã, ou seja, fazem a mesma curva no espaço-tempo. Assim, a análise dos corpos em queda mostra que espaço e tempo não são meros símbolos, mas participantes ativos do cotidiano do mundo físico. Espaços invisíveis, onde se empurram, freiam ou deixam rolar os objetos. Invisibilidade que determina os movimentos.
Enxergar esse espaço transversal invisível do cotidiano é reconstruir uma história a meio de nós mesmos. É lançar o olhar sobre esse universo neutrino que traz consigo cheiros, saudades, lágrimas, afeto, raiva, conhecimento, marcas e interferências.
Não há espaço vazio, relembra Mayumi Souza Lima, nem de matéria nem de significado; nem há espaço imutável. Nada é mais dinâmico do que o espaço por que ele vai sendo construído e destruído, permanentemente, seja pelo homem, seja pelas forças da natureza.
É nessa legitimidade de algo efêmero, imprevisível e caótico que o cotidiano se revela para uma reflexão sobre o espaço ocupado e do tempo histórico vivido pelo sujeito e seus objetos.


[1] Para mostrar a única possibilidade de existência desses termos em que um tem relação com o outro e só existe nesta relação, Nilda Alves os juntou em uma única palavra.
[2] Idem.
[3] Ibidem, p.1
[4] Ibidem, p.1