segunda-feira, 17 de setembro de 2012


“OLHAR DO EDUCADOR E NOVAS TECNOLOGIAS[1]” 

O texto abaixo foi produzido como parte das atividades do Programa Mestrado em Educação-UNISO. A leitura critica desse artigo (28 Ago.2012 - PPGE)  tem por finalidade identificar as motivações, contextos e as argumentações do autor.

As práticas do ensino nas salas de aulas mediadas por aparatos tecnológicos vêm causando uma turbulência nas relações professor/tecnologia/aluno. O uso desses suportes tecnomidiáticos requer uma preparação adequada por parte do professor, fato que por muitas vezes não ocorre e chega até mesmo a causar uma resistência por parte do docente. Doutro lado, estão os alunos conectivos ladeados por aparatos tecnológicos, porém, por muitas vezes, não conseguem utilizá-los de modo inteligente, critico e criativo. Nesse meio existe um vazio que deveria estar preenchido pelo potencial que essas tecnologias possibilitam na pratica escolar.
É nesse contexto que o autor lança o “olhar do educador”; como podem ser identificadas e utilizadas as oportunidades educacionais que tem o aluno como centro das atenções sem sucumbir às tentações dos modismos tecnológicos.
Nesse novo olhar, não cabem extremos: nem de resistências, nem de adoção critica. O aluno nem sempre tem razão, nem o professor, pondera o autor.
Essas resistências tem sido mais frequentes por parte dos professores, em geral pelo despreparo em transitar pelos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA), já que alunos tem essa “navegação” como parte integrante do seu cotidiano. É nesse ambiente “expressivo 2.0” que transitam consumidores e ao mesmo tempo produtores, professores e alunos vorazes por produtos virtuais. Essas gerações nem sempre se mostram tão hábeis principalmente no que se referem às potencialidades de aprendizagem.
O letramento digital, nesse texto tratado como alfabetização digital, pressupõe capacidade de apropriação cultural e suas representações com um conhecimento culturalmente valorizado; as interpretações baseadas em formas compartilhadas quando internalizadas, tornam-se disponíveis para o uso pessoal.
A prática digital possibilita esse letramento colaborativo através do processo continuo de desenvolvimento em diferentes contextos. Dependendo desse contexto, se estabelecem relações de “praticas sociais situadas”, alicerçadas pelas ações e reações, provocando uma autotransformação no sujeito e promovendo a elevação do seu capital social.
O uso das mídias multimodais requer um novo olhar do educador que precisa postar-se diante do aluno de forma menos resistente e mais balanceada e que saibam utilizar essas tecnologias para o eficaz aprendizado por parte dos alunos e professores. Ele deve adotar uma autocrítica no sentido de procurar estar à altura da nova geração. É indispensável, assegura Demo, saber acompanhar as novas tecnologias e lidar com elas positivamente, pois professores analfabetos digitais estão ficando naturalmente para trás porque se colocam fora do tempo e perdem a chance de “educar”; para acompanhar essa nova “geração 2.0”, é imprescindível mudar o professor em primeiro lugar, conclui o autor.



[1] DEMO, Pedro. B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof.,Rio de Janeiro, v. 37, nº 2, mai./ago. 2011. Disponível em <www.senac.br/conhecimento/periodicos.html> 

domingo, 16 de setembro de 2012

Lugares, momentos e destinos


Sorocaba, Março de  2012
 LUGARES, MOMENTOS E DESTINOS
Por: Edmilson Ribeiro[1]
 Aproveitando mais um dia das férias em frente à televisão, me chamou atenção uma entrevista no canal comunitário TVCOM SOROCABA.
O apresentador José Desidério, âncora do programa de televisão intitulado “Cantinho da Amizade”, tinha como convidado, o Dr. Lázaro Paulo Escanhoela Júnior, Advogado e Juiz de Direito entre 1984 e 1998.
A entrevista começa com certa informalidade, característica desse entrevistador e logo fez a seguinte pergunta:
- Dr. Escanhoela, você não nasceu advogado ou juiz de direito. Certamente caçou coelhos, passarinhos, correu nos campinhos de futebol e foi criança "levada". Como seguiu carreira nas ciências jurídicas?
Eis a resposta:
- Queria ser médico -  respondeu o advogado – sou da cidade de Piedade e estudei em escola pública estadual...
Confesso que, até então expectador alheio, fui surpreendido com a resposta do jurista...
Eita Piedade!!    . . .   pensei: está em todos os lugares!
Continuando a entrevista, o notável advogado prosseguiu:
- Queria ser médico, mas uma professora que lecionava geografia nessa escola de Piedade...
Tenho que interromper o relato da entrevista para descrever minha ansiedade em saber o nome dessa professora que estava prestes a ser revelado. Era como se eu estivesse num bingo com prêmio milionário, cuja cartela se preenchia a cada pedra cantada, nesse caso a entrevista, mas continuemos...
[...] queria ser médico, mas uma professora que lecionava geografia nessa escola de Piedade (prosseguiu o entrevistado) me incentivou ao abandono da medicina, para que eu seguisse a carreira jurídica: era a professora MARIA LUCIA DE AMORIM SOARES.
- BINGO!!!! Isso não era possível, ou melhor, isso era possível.
Normalmente, as situações cotidianas das pessoas levam às mais diversas decisões. Trago para este ambiente escritolido[2], uma reflexão de Jean-François Lyotard sobre a importância da remodelização das mentalidades às novas perspectivas para a existência na condição pós-moderna.
Segue a entrevista:
- Que medicina rapaz! - relatou o entrevistado citando carinhosamente a profª Maria Lúcia – seu pai é cartorário e você deve seguir os passos da sua família. Você (continuou a professora) deve seguir para a carreira jurídica! Seu futuro está na advocacia, profetizou.
 O que verdadeiramente amamos? Que coisa nos fascina? Pelo que sentimos dominados e ao mesmo tempo totalmente acumulados? Nessa entrevista testemunhei como as pessoas se completam, crescem e transfiguram mutuamente.
Estava posto à minha frente que a verdadeira essência dos educadores, com toda severidade, não poderia ser outra senão a de “libertadores”.
Nesse instante contendi com Foucault, Deleuze, Kant, essa turminha francesa e alemã metida a "besta", não conhecem o poder interveniente de uma mulher chamada “Maria Lucia”.
Königsberg[3] tremeria diante da cidade de Piedade, edificada em estruturas pré-cambrianas!
Que danada!  - recordei com profundo respeito os ditos da professora lugareira. Num dia ensolarado de uma semana qualquer, um galo canta, um avião passa, a professora fala que você deve seguir por outros caminhos. E tudo isso acontece inesperadamente...
Sobre a educação, Nietzsche[4] enfatiza que existem outros meios de encontrar a si mesmo, de escapar do aturdimento o qual nos colocamos habitualmente, porém não reconhece coisa melhor do que lembrar dos mestres e educadores. No momento da tempestuosa juventude, cada acontecimento pessoal se reflete num duplo clarão, como exemplificação da realidade cotidiana e ao mesmo tempo como um problema eterno, espantoso e digno de explicação. Nesta idade, em que vê suas experiências, por assim dizer, envolvidas por um arco-íris metafísico, o homem tem necessidade suprema de uma mão que o guie, porque, de repente e quase instintivamente, ele é persuadido da ambiguidade da existência e porque perdeu já o solo firme das opiniões tradicionais às quais estava até então ligado ( Nietzsche, 2003, 127-128)
Não me recordo como encerrou a entrevista com o notável jurista.
Para mim bastava! O desenlace estava perfeito e seguia o destino: o aluno, a professora e a escola de Piedade.
Quem sabe?
O tempo passa furtivamente.
Chamo para remate, fragmentos do texto Reverência ao Destino, de Drummond [5]para que me ajude a assegurar um final à altura dessa historia:

Reverência ao Destino [fragmentos]
Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá [...].
Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta [...].

(depois eu continuo...                    )
  
Caixa de texto: NOTA  DE  DEBASTIDORES:     Comecei a escrever esse texto para que tivesse a personalidade de um “e-mail”. Destinatários: professores Maria Lúcia (protagonista da historia), Eliete e Luiz Fernando, todos do Programa de Pós-Graduação em Educação. A mensagem tinha por finalidade relatar trechos da entrevista exibida num canal de televisão, no entanto as palavras chegavam, enfileiravam, e com uma persistência inflexível, insistiam em fazer parte do texto. Elas foram ficando, dando volume e consistência, ofertando uma fuga dos parâmetros de um e-mail.
A frase “depois eu continuo” seguido de um espaço em branco, era somente    um lembrete, mas vou deixá-la lá, visto que a história ainda  não terminou                                                                                                                                                                                                                                                               l     l     l 


[1] Administrador, professor universitário e mestrando em educação.
[2] Para mostrar a única possibilidade de existência desses termos em que um tem relação com o outro e só existe nesta relação, Nilda Alves os juntou em uma única palavra.
[3] Königsberg, Prússia: atual cidade russa de Kaliningrado.
[4] NIETZSCHE, Friederich W. Escritos sobre a educação. São Paulo:Loyola, 2003
[5] O texto “Reverência ao destino” é creditado à Carlos Drummond de Andrade, porém não consta em nenhuma de suas obras, o que deixa dúvidas sobre sua autoria. 

domingo, 9 de setembro de 2012

Orientações e desconstruções . . .(áudio)

"A simplicidade não está nas coisas, está no nosso olhar que pela ligereza e falta de informação, achamos que é tudo simples." (Luiz Fernando Gomes, 2012).

domingo, 26 de agosto de 2012

Memórias de sala de aula: 21 Ago 2012


Olá,

Neste domingo, na hora do almoço entre uma "garfada" e outra, surge na tv a figura de Ruben Alves  - clic aqui para a bibliografia - (Veja a entrevista na GloboNews "Dossiê") para uma entrevista.

Em dado momento ele argumenta que a verdadeira função do professor é não dar as respostas e sim provocar a curiosidade nos alunos e levá-los às pesquisas e que a primeira tarefa  é acordar a inteligencia e provocá-la para que ela pense...  Que os alunos tenham a coragem e habilidades para construirem pontes sobre os abismos.

"A alma deseja o perigo e o desconhecido. Ela é uma águia das alturas e que ama o abismo e as montanhas geladas. A alma é guerreira e precisa que tenha sempre uma batalha a ser vencida.  Temos que ter o olhar das crianças: são as crianças que vêem as coisas com o espanto da primeira vez, com  assombro, pois as coisas são do jeito que são. Os adultos de tanto vê-las... não vêem mais. Os adultos são cegos...", finaliza Rubens Alves.

É com esse "olhar de criança" que começo este segundo semestre/2012 no PPGE cuja tarefa dada pelo Prof Luiz Fernando foi de transformar o blog em um caderno.

Blog? Sei o que é. Entrei em muitos, mas nunca construi um.
Trago os ensinamentos de Ruben Alves: vou construir uma ponte sobre esse abismo.

Diante do meu companheiro de muitas lutas pedagógicas e fiel portador de um conhecimento enorme e invejável contido nos Gigabytes do seu "HD", começo a colocar camadas de figuras, textos - confesso que não tenho toda a liberdade, pois tenho leiautes pré-definidos a seguir, mas consigo arrastá-los de um lado para outro - não me importo e abro uma paleta de cores.
Faço a inserção de texturas e caixas de textos. Um "blog" começa a surgir em minha frente, suportado na tela (com marcas de dedos) do meu notebook que já demonstra sinais de cansaço nas suas teclas, antes foscas, resistentes e rebeldes; agora trazem nas superfícies um brilho e uma delicadeza no toque.

Preciso de um tema musical para acompanhar o nascimento do "blog". Num clic, convido Jimmy Page e Robert Plant para sonorizar o meu ambiente que na virtualidade do ciberespaço se realiza com a musica "The Rain Song" (Canção da chuva). Clic para visualizar o clip ..

Certamente não concluí este blog.

Tenho a convicção que ele nunca será concluido. É assim que deve ser.
Inacabado e aberto para que as pessoas que por aqui transitem, deixem  suas impressões, suas opiniões. Quero que ele tenha o formato das pessoas que por aqui passarão.

Já tenho "1" seguidora (obrigado pela força, Bia) rsrs.
Acredito que a memoria da primeira aula sobre novos letramentos, começa pelo simples olhar lançado neste blog. 

Um dia ele estará cheio de pessoas, de textos, de dissertações, da minha dissertação, de amigos, de ex-amigos e de amigos dos amigos...

Essa é a magia da escrita, do registro ao som de "Led Zepplin".
Portanto este texto deve ser lido da mesma forma como eu o escrevi: com carinho e ao som de uma música.

A canção está nos acordes finais, mas que ressoe por toda semana!

Tenham todos um ótimo fim de domingo.

Até mais
"It is the summer of my smiles
Flee from me keepers of the gloom
Speak to me only with your eyes"
                           (PAGE, Jimmy)

Ah!, o nome do blog?
Não sei.. tem que clicar...

sábado, 25 de agosto de 2012

COTIDIANO: Um mundo de memórias e invisibilidades.


A ideia desse texto surgiu num desses encontros no Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado - na Uniso em 27jun2011, após as aulas do Prof. Dr Marcos Reigota. 

Até então, sempre olhei o cotidiano como algo frequentemente cheio dele mesmo. Na palavra culta, cotidiano é algo que se faz todos os dias, o que acontece habitualmente, a monotonia do cotidiano.
Tive uma semana surpreendente. Fiz o que não devia fazer (ou deveria ter feito há tempos): não li Foucault - até os meus quarenta e sete anos de vida, ele não existia. Procurei por Hannah Arendt e subjuguei-a por seus escritos. Dediquei a observar atentamente suas fotos, seus retratos que tinham marcas de um cotidiano de não-história.
Sem nenhum remorso troquei Gilles Delleuze pelos saberesmultiplos[1] de  Nilda Alves e Regina Leite Garcia, que muito contribuíram para que as pessoas e suas vidas cotidianas, suas trajetórias e suas narrativas ganhassem o merecido destaque no espaço acadêmico. Esse olhar diferenciado pode ser visto nesta representação escrita com características líquidas: nem artigo, nem crônica, só escrita. Letras preenchendo o cotidiano da folha.
Quis trazer para este lugar escritolido[2] a relação de espaço e cotidiano fundamentada em Michel de Certeau:

 “O cotidiano é aquilo que nos é dado cada dia ( ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão do presente. Todo dia, pela manhã, aquilo que assumimos, ao despertar, é o peso da vida, a dificuldade de viver, ou de viver nesta ou noutra condição, com esta fadiga, com este desejo. O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. É uma história a meio de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada.
Não se deve esquecer este “mundo memória”, segundo a expressão de Péguy. É um mundo que amamos profundamente, memória olfativa, memória dos lugares da infância, memória do corpo, dos gestos da infância, dos prazeres. Talvez não seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história "irracional” ou desta “não-história”, como o diz ainda A. Dupront. O que interessa ao historiador do cotidiano é o invisível...” (CERTEAU , 1996:31)
Assim, deixo de pensar “sobre” o cotidiano e entrego-me as sensações do “estar com” o cotidiano.  O que realmente importa é a busca significante do invisível. É por reconhecê-lo como tempo/lugar dos conflitos racionais e irracionais de nossa contemporaneidade e dos sujeitosindividuaiscoletivos[3].
Outra idéia que nos parece fundamental nas pesquisas tem a ver com a dimensão “do lugar”, “do habitado”, “do praticado”, “do vivido”, “do usado”. Lefebvre sugere a exploração do repetitivo e busca a compreensão de como re-começam, re-criam, re-tomam as condições reprodutoras de sua invisível história e que o re-começar não é apenas repetir o já conhecido, mas sim re-ver o que nos parecia perdido na insignificância.
O que de tanto fazermos, não percebemos? O que apesar de tantas dificuldades e condições adversas conseguimos mudar? É necessário o abandono dos processos de classificar, separar, juntar, afastar-se do olhar panóptico e mergulhar no mundo. Só assim será possível entender o usuário destes espaçotempos[4] e o que fabrica os seus objetos, sugere Nilda Alves.
A física moderna estabelece que todos os objetos escorregam em um mesmo tobogã, ou seja, fazem a mesma curva no espaço-tempo. Assim, a análise dos corpos em queda mostra que espaço e tempo não são meros símbolos, mas participantes ativos do cotidiano do mundo físico. Espaços invisíveis, onde se empurram, freiam ou deixam rolar os objetos. Invisibilidade que determina os movimentos.
Enxergar esse espaço transversal invisível do cotidiano é reconstruir uma história a meio de nós mesmos. É lançar o olhar sobre esse universo neutrino que traz consigo cheiros, saudades, lágrimas, afeto, raiva, conhecimento, marcas e interferências.
Não há espaço vazio, relembra Mayumi Souza Lima, nem de matéria nem de significado; nem há espaço imutável. Nada é mais dinâmico do que o espaço por que ele vai sendo construído e destruído, permanentemente, seja pelo homem, seja pelas forças da natureza.
É nessa legitimidade de algo efêmero, imprevisível e caótico que o cotidiano se revela para uma reflexão sobre o espaço ocupado e do tempo histórico vivido pelo sujeito e seus objetos.


[1] Para mostrar a única possibilidade de existência desses termos em que um tem relação com o outro e só existe nesta relação, Nilda Alves os juntou em uma única palavra.
[2] Idem.
[3] Ibidem, p.1
[4] Ibidem, p.1